Curiosidade sobre o monoteísmo
“Afirmou-se, finalmente, que se o judaísmo como religião, houvesse perecido sob o governo de Antíoco, a semente do Cristianismo teria faltado; assim, pois, o sangue dos mártires macabeus, que salvaram o judaísmo, se tornou, por fim, a semente da igreja. Portanto, como não só a Cristandade, mas também o Islã derivam seu monoteísmo de uma fonte judaica, pode bem ser que o mundo de hoje deva a própria existência do monoteísmo, tanto no Oriente como no Ocidente, aos macabeus.”
Os próprios macabeus, todavia, não eram admirados pelos últimos judeus, porque sua família, constituída de altos sacerdotes, adotou, depois de seus êxitos, uma conduta mundana e contemporizadora. A admiração era pelos mártires. O quarto livro dos macabeus, escrito provavelmente em Alexandria, mais ou menos ao tempo de Cristo, ilustra tanto este como outros pontos interessantes. Apesar de seu título, não se refere, em parte alguma, aos macabeus, mas relata a surpreendente fortaleza, primeiro de um velho e, depois, de sete irmãos jovens, que foram todos torturados e depois queimados por Antíoco, enquanto a mãe, que se achava presente, os exortava a que se mantivessem firmes.
O rei a princípio, procurou conquista-los pela benevolência, dizendo-lhes que, se apenas consentissem em comer porco, ele os tomaria sob sua proteção, fazendo com que tivessem êxito em suas carreiras. Quando recusaram, mostrou-lhes os instrumentos de tortura. Mas eles permaneceram inabaláveis, dizendo-lhes que ele sofreria tormentos eternos depois da morte, ao passo que eles herdariam para sempre a bem-aventurança. Um a um, na presença uns dos outros e na de sua mãe, foram primeiro exortados a comer porco, e quando se negaram torturados e mortos.
No fim, o rei voltou-se para os seus soldados e disse-lhes que ele esperava que eles aproveitassem aquele exemplo de coragem. O relato é, certamente, embelezado pela lenda, mas é historicamente verdadeiro que a perseguição foi severa e suportada com heroísmo.
Bertrand Russel - Obras Filosóficas –Editora Nacional (1968)
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